Porque não centralizar as fotos

Uma das maneiras mais fáceis de identificar uma série de fotos tiradas por quem não entende de fotografia é observar que em praticamente todas elas o assunto principal está centralizado. Seja ele o rosto de alguém, o horizonte ou um atrativo turístico, pode apostar que a pessoa fez questão de posicioná-lo direitinho bem no meio do quadro.

POR QUE TENDEMOS A CENTRALIZAR AS FOTOS?

O ser humano tem o seu olhar naturalmente atraído por alguns elementos que chamam mais a sua atenção que outros, como rostos. Como uma reação natural a este instinto, quando alguém fotografa sem conhecimentos técnicos, tende a centralizar tais elementos no enquadramento, muitas vezes sem prestar atenção ao que fica de fora. É por isso que vemos tantas fotos com os pés e mãos das pessoas cortados, enquanto há um monte de espaço sobrando acima de suas cabeças.

POR QUE CENTRALIZAR AS FOTOS COSTUMA SER RUIM?

Devido a nossos instintos de sobrevivência mais primórdios, nosso cérebro está condicionado a fazer com que nossos olhos busquem ordem naquilo que veem, tentando reconhecer padrões na natureza. Quando identificamos que algo está “fora do lugar”, o assunto logo chama nossa atenção, pois pode se tratar de algo que represente perigo, como um predador, ou uma oportunidade, como uma fonte de alimento.

Desta forma, quando posicionamos um assunto no centro da foto, é como se criássemos uma espécie de alvo para quem a observa, que ali prende a sua atenção e tende a ignorar todo o resto, pois “o que interessa já foi localizado”. Isso torna a foto óbvia e meio sem graça, fazendo com que ninguém fique olhando para ela por muito tempo.

Já quando posicionamos o assunto de destaque fora do centro, quem bate o olho na foto, não encontrando nela um senso de ordem óbvio, instintivamente tende a continuar a escaneando com o olhar, organizando a cena mentalmente.

Veja, abaixo, a diferença entre uma foto da pirâmide do Museu do Louvre posicionada bem no meio do enquadramento e uma em que ela está um pouquinho mais para a esquerda. Ao descentralizá-la, mesmo que sutilmente, o fotógrafo da segunda imagem conseguiu dar mais dinamismo para a cena, de forma que nossos olhos também notam a bela fachada do museu.

Observe agora outro exemplo, em que o assunto principal das fotos é o Big Ben, em Londres. Na primeira ele foi centralizado horizontalmente, o que faz dele um ímã para os olhos do observador, que ali prende sua atenção e quase ignora o restante da cena. Já na segunda, tendo sido posicionado bem na extremidade do quadro, ele faz com que o observador percorra toda a cena com o olhar, até identificar seu assunto principal.

Mesmo que você leve apenas milésimos de segundos para identificar o assunto principal no ponto em que ele se encontra, como a cena está fora de padrão, seus olhos continuarão a passear por ela, só para ter certeza de que não se está perdendo nada.

É por isso que descentralizar o tema principal é uma maneira de tornar uma foto mais dinâmica e produzir resultados mais interessantes. Comece a fazer isso e, além de você conseguir que as pessoas prestem mais atenção às suas fotos, elas (mesmo que não saibam identificar o porquê) as acharão mais interessantes.

ONDE POSICIONAR O ASSUNTO PRINCIPAL DA FOTO?

Existem diversos princípios de composição para tornar as fotos mais harmônicas e interessantes, que você poderá checar mais a fundo em outros posts relacionados ao tema aqui no site. Mas, mesmo enquanto você não se aprofunda no assunto, já pode ir fazendo alguns testes deslocando o tema da sua foto do centro, verticalmente ou horizontalmente. Você vai se surpreender com o resultado!

Para lhe ajudar a treinar o seu olhar, aí vão alguns exemplos (sem entrar ainda nos méritos de princípios de composição mais técnicos).

LINHA DO HORIZONTE

Para saber onde posicionar a linha do horizonte, você precisa decidir o que quer enfatizar.

Se o elemento mais interessante da cena for o céu, como durante um pôr do sol, ou quando as nuvens assumem formas dramáticas, ponha a linha do horizonte mais para baixo, para dar o maior destaque possível a ele.

Já se o céu for praticamente irrelevante perante a paisagem que você quer retratar, porque preencher metade da foto com ele? Ponha a linha do horizonte mais para cima, enfatizando em primeiro plano outros elementos mais interessantes da cena.

PESSOAS

Em retratos, descentralizar os rostos dá um ar de maior espontaneidade. A foto fica com menos cara de posada e, portanto, mais natural. E, principalmente em se tratando de fotos de viagem, posicionar as pessoas fora do centro proporciona maior contexto para a cena.

Uma composição interessante para contextualizar retratos de viagem, principalmente aqueles que visam registrar os lugares pelos quais passamos, é enfatizar o lado para o qual a pessoa está olhando.

ENTÃO A REGRA É NUNCA CENTRALIZAR A FOTO?

Claro que não! Fotografia é uma arte e, como tal, não deve ser limitada por regras. Há muitas situações, inclusive, em que centralizar o tema da foto gera resultados bastante interessantes, como em cenas simétricas. O importante a manter em mente, portanto, é só centralizar um assunto quando a composição da cena realmente pedir por isso. E não simplesmente por instinto, como quem somente aponta a câmera e clica, sem pensar muito bem no que está fazendo.

E aí, curtiu?

Se você gostou dessa dica, compartilhe ela com seus amigos e familiares, principalmente aqueles com quem costuma viajar junto. Assim você garante que as fotos que eles tiram de você fiquem cada vez melhores!