Saiba como escolher qual o melhor tipo de câmera para fotografar as suas viagens, conforme seu perfil e suas necessidades.

Poucas coisas são tão prazerosas de fotografar como as nossas viagens. Talvez seja por isso que a maior parte dos amantes da fotografia, ao decidir comprar uma câmera, se preocupe em escolher um modelo que seja ideal especialmente para esta situação. Mas, basta uma breve pesquisa na internet para que todos descubram que escolher a melhor câmera para fotografia de viagem não é tarefa simples e vai além de ver entre o ranking com as melhores câmeras do ano qual delas cabe no seu orçamento. Hoje em dia há tantos tipos e modelos de câmeras no mercado, que fica até difícil saber por onde começar.

Como uma aficionada por fotografia de viagem, eu já perdi as contas de quantos amigos vieram me procurar ao longo dos anos querendo saber qual câmera eu os recomendo comprar – ainda mais por saberem que eu estudo sobre o tema assiduamente e que pesquisei muuuito antes de adquirir cada um dos meus equipamentos fotográficos. Por isso, eu decidi criar este post, com um guia completo para que você entenda de uma vez por todas a diferença entre os tipos de câmera digitais existentes atualmente, para que possa descobrir qual deles é o mais indicado para VOCÊ. Na sequência, também vou explicar sobre os principais recursos e funcionalidades que você deve observar na hora de escolher a marca e o modelo de uma câmera para fotografar viagens.

Antes de mais nada, eu preciso deixar algo claro: hoje em dia praticamente qualquer câmera é capaz de produzir fotos de arrasar. Duvida? Basta dar uma olhada em algumas contas no Instagram de usuários que se orgulham de ressaltar que clicam apenas com o celular. Portanto, se você não está satisfeito com o resultado atual das suas fotos, de nada vale investir em um equipamento melhor, se não pretende se dedicar a aprender um pouco mais sobre fotografia – o que pode ser feito em cursos ou até mesmo estudando por conta própria por meio de livros e tutoriais online.

Fico indignada quando vejo pessoas gastando uma grana que daria para comprar a viagem dos sonhos em uma câmera super avançada, para continuar a fotografar no modo automático. É claro que a qualidade óptica do equipamento por si só vai dar alguma melhorada nas suas imagens, mas se você não pretende explorar os inúmeros recursos e funcionalidades que ele oferece, é simplesmente desperdício de dinheiro. Se você faz parte desse público, há câmeras intermediárias que poderiam lhe oferecer um custo-benefício muito melhor. Vai por mim. Da mesma forma, há entusiastas que, na ansiedade de se equiparem para poder começar a estudar fotografia mais a fundo, acabam (por falta de informação) comprando uma câmera muito limitada, que não acompanha a sua evolução como fotógrafos.

Assim sendo, antes de sair perguntando para o vendedor da loja de eletrônicos mais próxima qual câmera ele recomenda ou perguntando para aquele seu amigo fotógrafo qual equipamento ele próprio usa, invista um tempo para ler estas dicas que separei para você poder escolher com mais sabedoria qual o tipo de câmera mais adequado às suas necessidades. Garanto que depois dessa leitura você poderá tomar uma decisão com muito mais segurança.

CÂMERAS DSLR

Fotógrafo de viagem com DSLR

Foto por Free-Photos / licenciada sob CC0.

DSLR é a sigla em inglês para “digital single-lens reflex”, que em tradução livre seria algo como "câmera digital de reflexo por lente única". Numa linguagem simplificada, isso significa que ela possui um mecanismo de espelhos que permite que os fotógrafos vejam por meio de suas lentes enquanto ajustam a foto, e que ela se abre, expondo um sensor (que equivale ao filme das câmeras analógicas) para capturar a imagem. Ela é o tipo de câmera mais tradicionalmente utilizado pelos fotógrafos profissionais, pois trata-se da versão digital das antigas câmeras SLR de filme formato 35mm.

Elas se dividem em duas principais categorias, conforme o tamanho de seu sensor, sendo chamadas de "full frame" aquelas em que ele equivale ao formato dos filmes analógicos de 35mm e de "APS-C" (Advanced Photo System type-C), aquelas em que ele é menor, possuindo um determinado “fator de corte”, que varia um pouco de fabricante para fabricante. De forma simplificada, se o fator de corte de uma câmera APS-C for de 1.5x, significa que a área máxima da imagem a ser capturada pelo sensor da câmera será 1.5x menor do que seria com uma câmera full frame.

Em ambas as categorias há bastante variação de preço, havendo modelos ditos “de entrada” e modelos mais avançados, com mais recursos e desempenho de imagem ainda melhor. No geral, as câmeras full frame são bem mais caras, mas uma APS-C top de linha pode ter seu preço bem similar ao de uma full frame de entrada, dada a maior quantidade de funcionalidades que ela apresenta. Por isso, para decidir entre elas, é importante que o fotógrafo saiba quais fatores são mais importantes para o tipo de foto que ele pretende fazer.

As lentes de uma DSLR são intercambiáveis, de forma que você pode comprar apenas o “corpo” da câmera ou um kit, em que a câmera normalmente acompanha uma lente zoom versátil, mas de não tão grande qualidade óptica. Dado o longo tempo que as DSLR dominam o mercado da fotografia profissional, a variedade de lentes disponíveis no mercado para elas é gigantesca, servindo aos mais diferentes propósitos fotográficos possíveis e imagináveis.

São para: quem pretende se dedicar a evoluir seus conhecimentos em fotografia, para tirar o melhor proveito de suas infinitas funcionalidades; bem como quem busca grande versatilidade de lentes e acessórios, para conseguir os mais variados resultados em diferentes situações.

Não são para: quem não está disposto a investir um bom tempo e dinheiro em fotografia, tampouco para aqueles que se incomodam em carregar muito peso durante uma viagem ou em ter de tomar cuidados especiais com o equipamento.

CÂMERAS DE SISTEMA COMPACTO (CSC)

As câmeras de sistema compacto (CSC) são aquelas que não possuem espelho em sua parte mecânica, tendo assim um corpo menor. Elas podem ser divididas em câmeras compactas com lentes intercambiáveis (as chamadas “mirrorless”), câmeras compactas super zoom (as chamadas “bridge”), câmeras compactas de bolso (as chamadas “point-and-shoot”) e câmeras de ação.

COMPACTAS COM LENTES INTERCAMBIÁVEIS (MIRRORLESS)

Fotógrafo de viagem com Mirrorless

Foto por Jakob Owens / licenciada sob CC0.

Apesar de todas as câmeras de sistema compacto não possuírem espelho, comercialmente, apenas as que apresentam lentes intercambiáveis ficaram conhecidas como câmeras “Mirrorless” (do inglês, "sem espelho"). Elas também são chamadas de “câmeras híbridas”, pois, apesar de seu corpo compacto, possuem funcionalidades de DSLR, podendo custar tanto quanto uma (ou até mais, dado o fato de que ainda são uma novidade e sua oferta no varejo nacional é relativamente pequena).

Como suas lentes também são intercambiáveis, elas são comercializadas no mesmo esquema que as DSLRs: você pode comprar apenas o “corpo” da câmera ou um kit, em que ela normalmente acompanha uma lente zoom versátil, mas de não tão grande qualidade óptica. Contudo, como as câmeras Mirrorless ainda estão a relativamente pouco tempo no mercado, a variedade de lentes disponíveis para elas é menor do que para as DSLR.

Há quem diga que as Mirrorless são o futuro da fotografia profissional, pois a cada ano que passa os fabricantes têm investido mais nelas, principalmente trabalhando para aumentar seus sensores e para ampliar a oferta de lentes e acessórios para elas. Os debates entre os fotógrafos que ainda preferem as tradicionais DSLR e os fotógrafos que migraram para as câmeras Mirrorless é infindável, pois, no fim das contas, é questão de preferência pessoal. Afinal, ambas possuem vantagens e desvantagens.

São para: quem pretende se dedicar a evoluir seus conhecimentos em fotografia, para tirar o melhor proveito de suas infinitas funcionalidades; quem busca versatilidade de lentes e acessórios, para conseguir diferentes resultados; mas também para quem está preocupado em não carregar tanto peso.

Não são para: quem não está disposto a comprar diferentes lentes, pois a possibilidade de troca deste acessório é o principal fator que a diferencia de uma câmera “bridge”, a tornando bem mais cara. Tampouco são para aqueles que preferem poder carregar a câmera no bolso, pois apesar de seu corpo ser menor que o de uma DSLR, ainda assim suas lentes conferem um volume considerável ao conjunto.

CÂMERAS DE BOLSO (“POINT-AND-SHOOT”)

Turista em NY com câmera compacta

Foto por Annie Sprat / licenciada sob CC0.

As câmeras de bolso do tipo “point-and-shoot” (em português, “aponte e dispare”), categoria na qual tecnicamente se enquadram inclusive as câmeras de celular, são aquelas levadas pela maioria das pessoas em suas viagens. Elas costumam apresentar baixa qualidade ótica de lente, a qual não é intercambiável. Têm a unidade de flash embutida na parte frontal e uma tela de LCD na parte traseira, que serve tanto como visualizador das fotos já tiradas como normalmente o único visor para captura de imagens. Elas também são extremamente lentas para ligar, para focar e para disparar. Além disso, a alta resolução de seus sensores não significa necessariamente uma alta nitidez da foto, pois ele possui tamanho reduzido, de forma que confere elevado nível de ruído em condições de pouca luz.

Contudo, o que você perde em qualidade, ganha em praticidade e portabilidade. Extremamente fáceis de usar, elas fazem todo o trabalho por você, de forma automática, não exigindo qualquer conhecimento de fotografia. Permitindo uma limitada interferência do fotógrafo, há quem diga que elas foram criadas para tirar fotos, não para fotografar realmente.

Apesar de alguns modelos mais avançados irem além dos modos de cena (retrato, paisagem, esportes…), possuindo regulagem de tempo de exposição, balanço de branco e ISO, tais opções ficam escondidas em menus e sub-menus na tela digital, limitando seu uso prático na hora de fotografar, fazendo com que você perca um tempo precioso.

Já modelos de câmeras de bolso mais básicos, de entrada, estão cada vez mais sendo deixados de lado, uma vez que são perfeitamente substituíveis pelos smartphones mais avançados – ainda mais com o tanto de aplicativos de fotografia existentes para eles, que tanto podem dar maior controle sobre a sua câmera como fazer edições rápidas para melhorar a qualidade das fotos. Ainda assim, elas são bem mais em conta que um smartphone avançado, costumam ser um tanto mais simples de operar e têm maior duração de bateria, de forma que ainda têm seu público.

São para: quem busca praticidade e portabilidade, ao mesmo tempo em que não quer ter de pensar muito antes de fotografar. Também são para quem tem o orçamento limitado e não pode gastar muito para comprar uma câmera mais avançada.

Não são para: quem pretende evoluir realmente na fotografia, nem para quem já está acostumado a fotografar no modo manual e quer ter maior controle sobre os resultados.

CÂMERAS SUPERZOOM (“BRIDGE”)

Fotógrafa de viagem com câmera bridge

Foto por Craig Dennis / licenciada sob CC0.

Ao olhar de um leigo, elas podem se parecer com uma DSLR de entrada, dada sua robustez. Mas, não se engane, elas não passam de point-and-shoots turbinadas. Elas ficaram conhecidas como câmeras “bridge” (ponte), pois costumam ser o equipamento de transição escolhido por aqueles que não estão mais satisfeitos com as limitações de uma point-and-shoot, mas ainda não se sentem prontos para encarar uma câmera com lentes intercambiáveis.

Uma câmera desse tipo só tem duas coisas que a diferem de uma point-and-shoot média. A primeira delas é a grande capacidade de zoom óptico (por isso o seu nome), que faz com que ela seja bastante versátil para fotografar viagens, uma vez que cobre diferentes distâncias focais com uma mesma lente, capturando tanto quadros mais abertos como aproximando elementos distantes na paisagem. A outra delas é a possibilidade de uso de controles manuais para abertura de diafragma e velocidade do obturador – que, em linhas gerais, são os mecanismos que controlam, respectivamente, quanto do fundo você quer desfocar e se você vai congelar ou borrar uma cena em movimento.

Contudo, se este segundo fator é realmente importante para você, fique atento às especificações técnicas na hora de escolher um modelo. Alguns podem não oferecer controle manual da velocidade do obturador, ao mesmo tempo que outros têm possibilidade limitada de controle de abertura de diafragma, pois sua lente não possui de fato um diafragma e faz uso de um filtro densidade neutra para controlar a maior ou menor passagem de luz.

O grande ponto que faz com que as câmeras superzoom ou bridge se aproximem mais das point-and-shoot do que das câmeras com lentes intercambiáveis é o tamanho reduzido de seu sensor, que pode comprometer a qualidade da imagem, especialmente em condições de pouca luz. Além disso, elas também sofrem do mesmo retardo na hora de clicar as fotos (o chamado “lag de obturador”) que as point-and-shoots. Algumas, no entanto, têm lentes realmente boas, com impressionante qualidade óptica.

Finalmente, o maior problemas das câmeras bridge é a sua relação custo-benefício, pois os modelos mais avançados, que realmente apresentam diferenciais perceptíveis com relação a uma boa point-and-shoot, custam praticamente tanto quanto o corpo de uma DSLR de entrada.

Ideais para: quem busca uma flexibilidade fotográfica um pouco maior para brincar, mas ainda assim não quer ter de ficar investindo em compra de diferentes lentes e acessórios.

Não são para: quem pretende evoluir realmente na fotografia, pois, nesse caso, logo vai sentir a necessidade de fazer um upgrade para uma câmera que ofereça lentes intercambiáveis, bem como maior controle no modo manual.

CÂMERAS DE AÇÃO

Câmera de Ação

Foto por Jakob Owens / licenciada sob CC0.

As chamadas câmeras de ação são câmeras de sistema compacto criadas originalmente para – como seu próprio nome diz – registrar cenas de ação, como a prática de esportes de aventura. Elas têm tamanho extremamente reduzido, são resistentes à água e têm um design mais bruto, bem simplificado. Assim, elas podem ser acopladas, de forma fácil e segura, a capacetes, guidões de bicicletas, pranchas de surfe e até mesmo à hastes extensoras manuais, que ficaram conhecidas como “paus de selfie” (sim, os polêmicos!).

Apesar de elas terem sido pensadas prioritariamente para a gravação de vídeos, o que permite a captura contínua da ação sem ter de interagir com a câmera, elas também tiram fotos. Isso fez com que elas pouco a pouco se popularizassem também como opção de câmera para viajantes que gostam de registrar cenas com espontaneidade.

Contudo, elas são mais comumente adquiridas como segunda câmera, pois com sensores de tamanho reduzido e sem flash, elas têm a limitação de não apresentar bom desempenho em ambientes mal iluminados. A curta vida de sua bateria também pode deixar um viajante na mão no meio de um longo dia de passeio, o que implica em ter de carregar baterias extra se ela for ser a única responsável por todos os cliques.

A categoria é associada com as câmeras da marca GoPro, líder absoluta de mercado, mas que vem perdendo cada vez mais espaço para concorrentes que têm desenvolvido alguns modelos que se equiparam em qualidade, a preços muito mais atraentes.

São para: quem quer ter uma câmera para carregar para todo lado, sem medo de danificar, para poder registrar momentos de descontração em ambientes outdoor, como na praia, numa trilha, em uma cachoeira ou na neve.

Não são para: quem quer ter maior controle sobre o resultado das fotos, quem quer fazer fotos em ambientes de pouca luz e quem só quer fazer selfies pela cidade (afinal, qualquer câmera compacta, até mesmo a própria câmera do celular, faz isso, sem você ter de gastar milhares de reais com outro equipamento mais resistente).

COMO ESCOLHER A MELHOR CÂMERA PARA FOTOGRAFIA DE VIAGEM

Agora que você já entendeu qual a diferença entre os principais tipos de câmera, imagino que deva estar na maior dúvida entre eles. Não é mesmo? Isso é porque escolher a melhor câmera para fotografia de viagem apresenta uma outra grande dificuldade: a decisão certa vai variar conforme o estilo da viagem que você vai fazer, que nem sempre é o mesmo. Você pode ter os seus momentos de mochileiro acampando num feriado na praia, mas também se animar com a ideia de pegar um avião e alugar um carro para explorar a Itália de norte a sul durante seus 30 dias de férias.

Assim sendo, alguns viajantes optam por possuir mais de um tipo de câmera. Inclusive, para aqueles que levam a fotografia mais a sério, eu recomendo sempre levar mais de uma câmera na mesma viagem, para que você tenha um equipamento reserva, caso um deles quebre ou seja roubado – especialmente quando você viaja para lugares mais remotos, onde é difícil encontrar uma loja de eletrônicos ou uma assistência técnica. Imagine só você no meio de um lugar incrível, como a Amazônia ou a Patagônia, e, por mero azar, ficar sem poder fazer NENHUM registro. É de chorar, né? Então tenha sempre uma câmera de backup, nem que seja a do seu celular.

Por fim, se você já conseguiu decidir qual câmera comprar para fotografar viagens, compartilhe conosco nos comentários a sua decisão e o porque dela. Assim você ajuda a outros aspirantes a fotógrafos de viagem nesta difícil missão. E, se ainda lhe resta alguma dúvida, prometo fazer o possível para ajudar.

Ah, e fique de olho por aqui, pois em breve vou publicar outro post completão, ensinando as diferenças entre as especificações técnicas de cada modelo de câmera, que são tão variadas hoje em dia, que deixam qualquer um mais perdido que marinheiro acordando na Bolívia. Estou preparando um conteúdo complementar bem bacana sobre o assunto que, como este, será totalmente voltado para as necessidades específicas dos amantes da fotografia de viagem. Para ser notificado sobre a publicação em primeira mão, se inscreva em nossa lista VIP.